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Balançado demais

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A festa em lágrimas

A família reunida se alegra em rever tantos parentes distantes. Afeto verdadeiro, repleto de beijos e grandes abraços. Encontros atentos, provocando lembranças. Curiosidade sobre o que o tempo escreveu na história de cada um.

Uma lona foi erguida no quintal, para que a chuva não atrapalhe o encontro. O café e o chá estam quentes sob a mesa, aguardando conversas e degustações. Os carros vão chegando e trazendo mais e mais gente. Uma família realmente grande, que impressiona.

O burburinho é imenso, uma agitação por igual que só é quebrada pelos gritos das crianças brincando e o tom de voz alto do avô surdo.

E olha que hoje não é dia de festa. A família está principalmente triste.

No centro da varanda Ana Mafalda se despede com semblante terno e flores ao redor. Alguns chegam de longe, outros nem se aproximam, a maioria contempla de perto com pensamentos distantes.

Há muitas lágrimas no ambiente.

(...)

A madrugada silenciosa desperta com o papagaio que há mais de quarenta anos ouve: “dá o pé meu lôro ... cadê o café do lôro?”, frases que ele repete no horário rotineiro dessa manhã. Pão e café são servidos ao ilustre animal de estimação que permanece repetindo as palavras da avó.

O choro anestesiou o cansaço e já é hora do enterro. Aglomeram-se os filhos, netos, noras, genros, irmãos, primos e amigos para verem Ana Mafalda pela última vez. O cortejo segue longo, no comprimento e na distância.

(...)

Voltamos do cemitério e decidimos almoçar juntos, saboreando comida e reunião familiar.

Me sinto feliz. Me sinto forte. Só falta ela, que agora se foi. Nós choramos o que precisávamos e fizemos o que podíamos fazer em um mês de padecimento. O velho clichê é realmente certo, “ela descansou”.

Antes do almoço, vou para o bar com tios e primos. Longe de qualquer desrespeito ao luto, celebramos a união de tantos amigos e parentes, comemoramos mais um momento juntos, sorrimos por causa dos nós dos laços que nos ligam.

A diferença e a proximidade é a receita para uma família que permanece em festa a cada encontro, mesmo aqueles mais tristes.

Adeus vovó!!! Saudades de ti.